Transcrevemos o artigo sobre os missionários scalabrinianos publicada no jornal diocesano “Notícias de Setúbal“.
Esta semana vamos ao encontro do primeiro Instituto Religioso Masculino a ser retratado neste périplo pela diocese: os Missionários de São Carlos, mais conhecidos por Scalabrinianos, que estão há mais de quarenta anos na Paróquia de Amora (vigararia do Seixal). No Seminário Scalabrini recebem-nos os quatro sacerdotes que atualmente ali estão ao serviço, e falam-nos sobre a característica da sua congregação: a especial atenção aos migrantes.
O Padre Pedro Granzotto, scalabriano, é pároco da comunidade da Amora. Com ele, no Seminário Scalabrini, residem três outros sacerdotes, vigários da Paróquia: o Padre Leone Orlando, o Padre Pio Fantinato, e o Padre Geraldo Finatto. Este último, foi nomeado vigário paroquial no passado Domingo, dia 03 de maio, e está a ser definido o seu trabalho pastoral.
A presença dos Scalabrinianos em Portugal teve início no dia 03 de março de 1971, com a chegada dos três primeiros Padres vindos do Brasil e França, e os objetivos foram desde logo a presença missionária numa paróquia pobre, situada numa área de forte mobilidade humana, o que acontecia, à época, na Amora e em toda a margem sul do Tejo.
Por outro lado, pretendia-se a ação qualificada nos organismos eclesiais do espiscopado português para a migração, que aconteceu numa colaboração ativa com as estruturas da Conferência Episcopal para a Pastoral da Mobilidade Humana, num primeiro momento de forma descontínua como assessores e auxiliares, mas mais tarde, com o Padre Rui Pedro, a tempo inteiro, nas funções de diretor nacional da Obra Católica Portuguesa das Migrações e secretário da Comissão Episcopal da Mobilidade Humana.
Pretendia-se ainda que a presença da congregação ajudasse à formação de sacerdotes e agentes pastorais para emigração, inspirados pelo carisma. Esse continua a ser um desejo permanente dos sacerdotes que estão, atualmente, na comunidade da Amora e a residir no Seminário Scalabrini.
Envolver todos os povos e culturas
Na Paróquia da Amora, os quatros sacerdotes trabalham em conjunto. Ainda que alguns façam um acompanhamento mais específico a grupos, há sempre um trabalho de conjunto que é feito e os sacerdotes vão rodando por todas as comunidades que pertencem aquela paróquia.
Diz o Padre Pio que aquela comunidade tem características muito especiais. «A Amora é uma realidade muito complexa. Temos aqui o trabalho normal de todas as paróquias da Diocese, mas o que motiva a nossa presença aqui é a necessidade de cuidar daquilo que é característico da nossa congregação, ou seja o apoio à Pastoral das Migrações», diz.
«Temos um trabalho paroquial com especial atenção aos migrantes. A nossa paróquia é profundamente marcada com pela diversidade das origens. Temos aqui os grupos significativos de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Guiné-Bissau, Timor, Moçambique, Brasil e Goa. Nós procuramos estar atentos, dar-lhes o seu espaço de expressão para que eles ter as suas festas próprias e um espaço de animação litúrgica. O objetivo é unir e envolver as comunidades, os povos e as culturas», sublinha, ainda, o Padre Pedro.
Realidade diversificada que encaixa no carisma
Recém-chegado à comunidade, o Padre Geraldo salienta os quatro lugares de culto que ali existem (Igreja matriz, Igreja Scalabrini, Foros de Amora e Quinta da Princesa). «São quatro lugares muito diferentes um dos outros. Quando celebramos ali, percebemos que cada Igreja mostra uma parte da Paróquia toda e o conjunto faz esta realidade. Juntos constroem uma paróquia bastante diversificada e que se complementa, mas que nos convida a olhar toda a realidade diferente e que encaixa muito no nosso carisma».
Para além disto, o Padre Leone tem um carisma muito particular de atendimento e escuta pessoas com problemas familiares, de saúde, entre outros. E explica-nos em que consiste: «Esta é uma forma de manifestar a caridade para com as pessoas que sofrem. À sexta-feira temos oração de cura e libertação. Feita durante oito anos aqui no Seminário Scalabrini, este ano começou a ser feita na Igreja nova, dedicada ao Beato Scalabrini. É um trabalho que atrai muitas pessoas mas exige grande paciência para escutar».
A influência scalabriniana nos grupos paroquiais
Na Paróquia existem ainda, para além dos dito «normais» grupos paroquiais, dois grupos com o carisma da congregação: os Jovens Scalabrinianos e os Leigos Scalabrinianos. No entanto, todos os grupos acabam por ter a influência deste carisma, como por exemplos as Sociedades Vicentinas que ali existem, em que a maior parte das pessoas apoiadas são migrantes.
Uma das particularidades é a Igreja dedicada ao patrono das migrações, Beato Scalabrini, e a celebração, todos os anos, da Festa dos Povos. «Somos sensíveis a esta gente e damos oportunidade a que cada cultura e nacionalidade possa ter o seu espaço, e que todas tenham o seu lugar na comunidade. Somos uma Paróquia com esta sensibilidade para que as outras se possam inspirar também neste cuidado. É essa a nossa visão», diz o Padre Pedro.
Vocações sacerdotais nascidas na Amora
Apesar de terem, na Amora, um Seminário, e de já ali terem nascido vocações, nenhuma delas foi para o carisma Scalabriniano. Sublinha o pároco: «Em Portugal estamos com dificuldades para angariar convidados. Há vocações saídas da comunidade de Amora, ainda que não tenham seguido o carisma Scalabriniano». E salientam o nome do Padre João Nabais Dias, atual vigário da paróquia de Almada e diretor do Secretariado Diocesano da Pastoral da Juventude, para além de dois outros rapazes que cresceram na comunidade e que estão, atualmente a trilhar um caminho de preparação para o sacerdócio: um nos Salesianos e o outro nos Franciscanos.
No entanto o Padre Geraldo refere que a crise de vocações sentida não é só em Portugal, mas em toda a Europa. «Até mesmo em Itália, onde há uma pastoral vocacional scalabriniana, as coisas não estão fáceis. Atualmente a congregação está a ser alimentada com sacerdotes provenientes de outros locais onde não era tradição, como por exemplo as Filipinas, a Colômbia e o México. Estas novas vocações também provocam algo de belo na congregação. Os Padres e as comunidades scalabrinianas começam a ser reflexo das comunidades com que trabalhamos», aponta.
Vida comunitária é testemunho forte
A vida em comunidade destes quatro sacerdotes é também uma característica. «Cada um de nós é um ser único, mas procuramos apostar nesta dimensão da comunhão entre nós. É importante, para desenvolver um bom trabalho pastoral, que essa comunhão possa transparecer. Assim, somos um testemunho e atraímos amizade e simpatia das pessoas. Os paroquianos recebem-nos muito bem, têm vontade de vir ter connosco e aproximar-se de nós», refere o Padre Pedro Granzotto.
Assim, e apesar de cada um ter os seus afazeres pastorais, a oração comunitária de manhã e as refeições em comunidade são fundamentais.
Nesta sua presença em Setúbal, encontram como alguns desafios: «Queremos estar ao serviço da Igreja local, mas com a nossa especificidade, e procurar, na nossa humildade, ser sinal visível de inspiração no apoio aos migrantes», refere o pároco.
Por outro lado, o Padre Geraldo acrescenta: «Há jovens na Paróquia e é um desafio, não é só esperar que este grupo permaneça, mas pensar como podemos fazer para que estes grupos de jovens e crianças possam ficar ligados. Temos que estar atentos e não deixar passar esta grande ocasião que temos hoje. Eles estão ali e temos que saber o que fazer para que possam continuar».
Fonte: Notícias de Setúbal
Anabela Sousa